Recusar o irrecusável



Uma ligação telefônica na segunda-feira de carnaval. Uma proposta e a chance de mudar de vida radicalmente... Esse foi o samba enredo da nossa semana. Ser contratada em uma multinacional como Analista Sr., com o compromisso de ser promovida a supervisora dentro de 3 a 6 meses, a chance de empregar o maridão, viver em Dubai por 2 anos e depois ser transferida para Paris ou Amsterdam. Parece a proposta perfeita para um casal sem filhos com tantos sonhos a realizar. E é mesmo... Ir para Dubai, onde já temos uma grande amiga, com um salário bacana, aluguel pago pela empresa e allowances. Foram dias de grandes reflexões, conversas e pensamentos sobre as consequências dessa escolha.

Pensei muito, muito mesmo e decidimos (leia-se decidi porque pelo Filipe estaríamos lá semana que vem já) que não seria feliz se optasse por trancar a faculdade e adiar nosso casamento mais uma vez em detrimento dessa proposta. Não permitirei, dessa vez, que planos profissionais impactem no nosso planejamento pessoal. Posso me arrepender? Talvez sim, talvez não. Never knows...

Tenho certeza que Deus é nosso melhor conselheiro e o tempo dirá se essa decisão foi a mais acertada. Não me dou o direito de lamentar! Se tiver que ser nosso, será. Agora ou mais tarde...

No mais, é continuar com nossos pés no chão e tornando nossos sonhos realidade...planejando sempre.

De papel passado

P.R.O.P.R.I.E.T.Á.R.I.O.S.
Assinamos hoje a escritura do nosso terreno. Nossa! Indescritível a sensação que essa conquista nos proporcionou. Nosso primeiro patrimônio, quitado...todinho nosso. Fruto de muito trabalho, força de vontade e crença no futuro mais do que maravilhoso que nos aguarda (porque o presente já é ótimo, obrigada!). Primeiro bem de muitos que ainda estão por vir, com certeza! Ao saírmos do cartório, nos olhamos e simplesmente nos abraçamos. Falar o quê? O silêncio dizia tudo naquela hora...depois, demos um belo sorriso um pro outro e dissemos: proprietários!!!

Sabe a sensação de "não precisar" contar com a sorte de ganhar uma bolada pra comprar nosso canto porque já conseguimos com nosso próprio esforço? É assim que sinto... Estou muito feliz por não precisar contar com herança de mãe ou pai pra conquistar nosso primeiro b.e.m.
Em suma, completamente realizada!

Valor pago pelo terreno = R$ 26.000,00
IPTU = R$ 51,00
Certidões = R$ 200,00
ITBI = R$ 360,00
Escritura = R$ 1.385,00
Total = R$ 27.996,00
Sentir o prazer de nos tornar proprietários e ter a chance de morar em lugar com tanto verde e com uma vista como essa abaixo = N.Ã.O. T.E.M. P.R.E.Ç.O. !!!! Ah não tem mesmo...

Uma conversa cheia de saudade...

Hoje conversei com minha irmã. Era pra ser somente mais uma conversa breve sobre o processo do inventário... No entanto, foi mais do que isso. Mais do que duas irmãs que mal se conhecem falando de coisas burocráticas como procurações e certidões.

Foi uma conversa breve, mas repleta de saudade, de sentimento limpo e puro companheirismo no silêncio que algumas vezes esteve no meio daquela ligação.

Falamos do casamento, porque sempre comento com ela sobre viagens e acontecimentos na minha vida, e fiquei sem palavras quando ela, radiante, disse que virá. Quando falei a data, veio o primeiro nó na garganta...ficamos, ambas, em silêncio para dedicar alguns segundos à lembrança inevitável que nos vem à memória sobre esse dia.

Falamos também do papai e de como ele nos achava parecidas. Aí não teve jeito...foi ela chorando de lá e eu, de cá.

E assim terminamos essa breve conversa, com o desejo de nos encontrar pessoalmente assim que der.

E tomara que dê logo viu?

Super mulher!

'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes.. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, marido (se tiver), telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação!

E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora.
Você é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada.
Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu amor.
Três dias.
Cinco dias!
Tempo para uma massagem.
Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.
Tempo para fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Para engravidar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.
Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.
Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M...A.C.


Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'


Martha Medeiros - Jornalista e escritora
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Nossa, como esse texto me caiu bem hoje! Estava precisando de palavras assim...